A Sarração da Velha é uma tradição que se realiza em Afife, desde tempos
imemoriais, na quarta-feira da terceira semana da Quaresma e todos os anos
começava a ser vivida a partir da quarta-feira de cinzas, com o som dos
triquelitraques, angariando fundos através de peditório.
Tradicionalmente, durante esse espaço de tempo
e durante as noites, trabalhava-se, em local secreto, no andor da velha e no
testamento.
Presentemente, o boneco da velha é feito pelos
utentes do centro de dia para apoio a idosos.
Na parte final da Sarração da Velha é esperada
com muito entusiasmo e expetativa a leitura do “Testamento”. A maior expetativa
sente-se entre as pessoas solteiras, pois é a estas que, geralmente, a velha
deixa ficar os seus bens, sem contudo esquecer as autoridades locais e mesmo o
padre da freguesia.
O testamento começa com as habituais fórmulas
legais, onde não falta o Decreto-lei, a passagem pela assinatura do notário e
do juiz, seguindo-se a distribuição dos bens, deixados pela testamenteira.
As quadras do testamento são todas em rima.
Apesar de Afife pertencer ao concelho de Viana
do Castelo, há bastantes alunos que frequentam o segundo e o terceiro ciclos na
escola. Assim, faz todo o sentido dar a conhecer aos alunos da Escola Básica e
Secundária do Vale do Âncora esta tradição.
Na escola começa a preparar-se a atividade no
início do segundo período. Tem de se fazer o testamento, onde a velha vai
deixar os seus bens aos professores, aos funcionários e aos serviços da escola.
Nas quadras, que têm de rimar, os alunos criticam e brincam com os tiques,
manias e caraterísticas dos professores e funcionários, assim como o que não
estiver correto a nível dos vários serviços. Aprendem, ainda, a utilizar os
vários instrumentos e fazem o boneco da velha.
A Velha
Durante o cortejo, existe um andor, no qual é
colocado um boneco com o tamanho e a forma de um ser humano do sexo feminino,
que é designado por “Velha”.
Segundo a tradição, o boneco representava a
pessoa mais idosa de Afife.
A padiola, o sítio onde se prega o boneco, era
geralmente construída com varas de austrália ou eucalipto. Nesta estrutura é
pregado o esqueleto da velha, composto por uma vara colocada na vertical, onde
assentam os ombros e a cintura; a partir destes, nasce o tronco e a saia
moldados a partir de vimes ou salgueiros. Na parte superior da vara central é
colocada a cabeça que é feita com uma chila ou com um cântaro de barro.
Presentemente, o vestuário do boneco é feito
com papel de seda e colocam dentro umas lamparinas.
Na escola, a velha é recheada com papel de
jornal e vestida com roupa e bijuterias levadas pelos alunos. Geralmente é uma
velha bem gorda e muito engraçada. Os alunos gostam de ver a velha bem
enfeitada e muito parola, com chapéu, lenço, colares, óculos, bolsa…
A cabeça da velha é feita com uma abóbora ou
cabaça, arranjada também pelos alunos. Este ano, o boneco foi realizado pelos alunos que frequentam a Oficina SentirARTE, dinamizada pelo professor Álvaro Carteado, docente de Educação Visual.
Desconhece-se a data de criação deste
instrumento, sabendo-se, no entanto, que terá pelo menos 200 anos.
Antigamente, em qualquer habitação da
freguesia, existia um triquelitraque; presentemente, já não há tantos na
freguesia, tendo sido muitos deles, vendidos a turistas que visitam Afife
durante o Verão.
O triquelitraque constitui-se por uma tábua e
várias fileiras, que pode ir de uma a quatro, de martelinhos. O cabo desses pequenos
martelos de madeira, gira num eixo passado entre dois suportes fixos na tábua.
O som do instrumento varia com a madeira, a espessura
da tábua e a quantidade de martelinhos.
Segura-se com uma mão no alto e outra em baixo
e sacodem-se fortemente e em cadência certa, de modo a que os martelos batam na
tábua todos ao mesmo tempo e num ritmo variado e regular, o que é por vezes um
pouco difícil de realizar com perfeição.
A função deste instrumento é produzir o ruidoso
som a que todos se habituaram a ouvir logo a seguir à quarta-feira de cinzas,
até ao dia da sarração.
Fora esse período, o triquelitraque não era tocado, ficando a apanhar o fumo das
chaminés, que conserva e seca as madeiras, com o intuito de no ano seguinte o
seu som ser melhor, pois as madeiras vão ficando ressequidas.
Presentemente, já se veem os triquelitraques em
vários cortejos, ao longo do ano.
No cortejo da Sarração da Velha fazem-se três
tipos de batimentos com este instrumento:
A marcha é tocada quando o grupo se desloca e é
também tocada nos cortejos de peditório;
O sarra é tocado antes da leitura do testamento
e por último o esgalha que é usado como agradecimento no peditório e durante a queima
da velha.
Acompanham,
na Sarração, outros instrumentos, nomeadamente:
Os cornos, que são os chifres dos bois;
E a rela ou ruge-ruge que é constituída por uma haste e uma roda dentada sobre
a qual gira uma lâmina de madeira.
Em
Afife, desde 1978 que a organização da Sarração da Velha tem sido do NAIAA, Núcleo Amador de Investigação
Arqueológica de Afife.
O
cortejo percorre os vários caminhos da Freguesia até ao lugar do Cruzeiro, onde
em cima da Centenária Mesa de Pedra se lê o testamento.
Na Escola,
a atividade é sempre realizada na mesma semana que em Afife, mas na
sexta-feira, devendo-se ao facto da escola possuir poucos triquelitraques e o
NAIAA emprestar sempre os da Associação, só o podendo fazer após a realização
da atividade em Afife, bem como o fator horário, pois realiza-se sempre às
21:30h. Sendo uma atividade noturna e realizando-se na sexta-feira, no dia
seguinte os alunos podem levantar-se um pouco mais tarde.
Este
ano, no passado dia 09, 6.ªfeira, os alunos fizeram o ensaio geral pelas 10:30h
e, pelas 21:30h realizou-se, uma vez mais, com a chuva a salpicar o testamento,
a Sarração da Velha. Mesmo com chuva, os alunos divertiram-se e participaram
entusiasmados na atividade.
“Gostei
bastante da atividade e dos ensaios, acho que é divertido. Não dava para estar
melhor preparada, pois foi um espetáculo. Esta atividade devia continuar nos
próximos anos.”
André, 8.ºD
“…
É muito fixe participar.”
Gonçalo, 8.ºD
“Eu gostei porque é engraçado e interessante….”
Tiago B, 6.ºA
“A Sarração da Velha foi engraçada e
interessante e poderia continuar a haver porque é uma noite bem passada, a
tocar os triquelitraques, o búzio e o corno. O leitura do testamento e a queima
da velha são as partes mais interessantes. É muito fixe ouvir o testamento porque
tem quadras muito criativas.”
Joana, Matilde e Nuna, 6.ºB
“Gostei muito, acho que foi bastante
interessante. Foi pena ter chovido.”
Matilde, 6.ºC
“Gostei de fazer parte da preparação da
atividade porque foi divertido tocar e fazer as quadras e é bom saber que a
tradição se mantém.”
Diogo, 5.ºA
“… foi muito divertido tocar os
triquelitraques. Foi muito engraçado ouvir o professor Flamiano a ler as
quadras que os alunos escreveram sobre os professores, os auxiliares e
serviços. Estiveram na escola os bombeiros para queimar a velha, porque podia haver
algum problema. Começou a chover, mas até foi mais divertido. ”
Bruno, 5.ºB
“… Eu estava muito contente por
participar. Gostei muito.”
Rodrigo, 5.ºB
“Eu adorei! Foi uma experiência nova
tocar os triquelitraques, as quadras muito engraçadas. Foi maravilhoso. A
melhor parte foi quando a velha estava a
queimar e o fogo começou a fazer um redemoinho porque estava vento… Amei, foi
fantástico!”
Helena,
5.ºB
“Gostamos, achamos interessante e é algo diferente. … Foi ainda
mais fixe com a chuva.”
Inês, 6.ºA e Inês B, 5.ºD
A VELHA
O CORNO
OS TRIQUELITRAQUESO
A CABEÇA DA VELHA
ENSAIO GERAL
ENSAIO GERAL
ENSAIO GERAL
SAÍDA DA VELHA EM CORTEJO
A PREPARAÇÃO DO CORTEJO
ENSAIO GERAL
A ESPERA....
ENSAIO GERAL - 09.03.2018 - 10:30h
TESTAMENTO PARA OS SERVIÇOS
Excelente recriação da tradição. O triquelitraque não é fácil de tocar. :) Tem sempre boas ideias para atividades repletas de arte e cultura. Parabéns, Prof.ª Manuela.
ResponderEliminarBeijinho,
Carla Senra
Muito obrigada Carla. Beijinho.
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