16 de março de 2023
O testamento começa com as habituais fórmulas legais, onde não falta o Decreto-lei, a passagem pela assinatura do notário e do juiz, seguindo-se a distribuição dos bens, deixados pela testamenteira. As quadras do testamento são todas em rima. Apesar de Afife pertencer ao concelho de Viana do Castelo, há muitos alunos que frequentam o segundo e o terceiro
ciclos na escola. Assim, faz todo o sentido dar a conhecer aos alunos da Escola Básica e Secundária do Vale do Âncora esta tradição. Tem de se fazer o testamento, onde a velha vai deixar os seus bens aos professores, aos funcionários e aos serviços da escola. Nas quadras, que têm de rimar, os alunos criticam e brincam com os tiques, manias e caraterísticas dos professores e funcionários, assim como o que não estiver correto a nível dos vários serviços.
Aprendem, ainda, a utilizar os vários instrumentos e fazem o boneco da velha.
A VELHA
Durante o cortejo, existe uma padiola, na qual é colocado um boneco com o tamanho e a forma de um ser humano do sexo feminino, a “Velha”. Segundo a tradição, o boneco representava a pessoa mais idosa de Afife. A padiola era geralmente construída com varas de austrália ou eucalipto. Nesta estrutura é pregado o esqueleto da velha, composto por uma vara colocada na vertical, onde assentam os ombros e a cintura. O tronco e a saia são moldados a partir de vimes ou salgueiros. Na parte superior da vara central é colocada a cabeça que é feita com uma chila ou com um cântaro de barro. Presentemente, o vestuário do boneco é feito com papel de seda.
Na escola, a velha é recheada com papel de jornal numa armação de arame e vestida com roupa e bijuterias levadas pelos alunos. Geralmente é uma velha bem gorda e muito engraçada. Os alunos gostam de ver a velha bem enfeitada, bem colorida, com chapéu, lenço, xaile, colares, óculos, bolsa. A cabeça da velha é feita com abóbora ou cabaça. Este ano, o boneco foi realizado pelos alunos das turmas B e C do 5.ºano, orientados pela professora Dora Amador. TRIQUELITRAQUE ou ZAQUELITRAQUE
É o instrumento indispensável na Sarração da Velha de Afife. Desconhece-se a data de criação deste instrumento, sabendo-se, no entanto, que terá pelo menos 200 anos. Antigamente, em qualquer habitação da freguesia, existia um triquelitraque; presentemente, já não há tantos, tendo sido muitos vendidos a turistas que visitam Afife durante o Verão.
O triquelitraque constitui-se por uma tábua e várias fileiras de martelinhos. O cabo desses pequenos martelos de madeira, gira num eixo passado entre dois suportes fixos na tábua.
O som do instrumento varia com o tipo de madeira, a espessura da tábua e a quantidade de martelinhos.Segura-se com uma mão no alto e outra em baixo e sacodem-se fortemente e em cadência certa, de modo a que os martelos batam na tábua todos ao mesmo tempoi.
O triquelitraque apenas era tocado entre a 4.ª feira de cinzas e a noite da Sarração da Velha, ficando no resto do ano, a apanhar o fumo da chaminé, que conserva e seca as madeiras, com o intuito de no ano seguinte o seu som ser melhor, pois a madeira vai ficando ressequida. Presentemente, já se veem os triquelitraques em vários cortejos, ao longo do ano.
Na Sarração fazem-se três tipos de batimentos: A marcha é tocada quando o grupo se desloca e é também tocada nos cortejos de peditório; o sarra é tocado antes da leitura do testamento e por último o esgalha que é usado como agradecimento no peditório e durante a queima da velha.
Acompanham, na Sarração, outros instrumentos, nomeadamente:
Os búzios, que são as conchas grandes;
Os cornos, que são os chifres dos bois;
E a rela ou ruge-ruge que é constituída por uma haste e uma roda dentada sobre a qual gira uma lâmina de madeira.
Em Afife, desde 1978 que a organização da Sarração da Velha tem sido do NAIAA, Núcleo Amador de Investigação Arqueológica de Afife.
O cortejo percorre os vários caminhos da Freguesia até ao Cruzeiro, onde em cima da Centenária Mesa de Pedra se lê o testamento.
OS ENSAIOS
A opinião dos alunos...
Eu amei a serração da velha
Luis Santos, 5.ºB
Eu achei que a Sarração da Velha foi muito divertida, porque pude tocar num instrumento que nunca tinha tocado na minha vida. Também ouvi poemas que jamais irei esquecer, por serem tão divertidos. Eu gostaria de repetir para o próximo ano.
Matilde Correia, 5.ºB
Foi uma experiência que gostaria de participar outra vez. Foi bom aprender a tocar triquelitraques.
Paulo Silva, 5.ºB
Foi fixe, experimentei instrumentos novos e atuamos para os pais e professores. A melhor parte da serração da velha foi quando a velha começou a arder.
Lourenço Almeida, 6.ºB
Adorei ouvir as frases que escreveram sobre os professores (o testamento). Foi cansativo, porém divertido tocar os triquelitraques. Enquanto a velha queima, há muita animação.
Maria Miguel, 6.ºB